Agora é o momento certo!

Já há alguns dias que parecia que nada corria bem. O cansaço acumulado pesava-me nos ombros, e a sensação de impotência começava a sufocar-me. Lá fora, a chuva caía de forma intensa, como se o tempo refletisse exatamente o que se passava dentro de mim. O meu telemóvel estava sem bateria, a noite tinha sido passada em claro, e agora, ao dirigir-me à máquina de café, deparo-me com um post-it colado nela: "Fora de serviço".

Para mim, aquilo tinha sido a gota de água. Não aguentei mais. Senti as pernas fraquejarem e debrucei-me sobre os joelhos, deixando que as lágrimas corressem livres pelo meu rosto. A minha volta, nada se alterou. As mesmas paredes brancas continuavam impassíveis, decoradas com cartazes de prevenção de doenças. Os médicos e enfermeiros passavam apressados de um lado para o outro, e ao longe, a voz mecânica chamava os doentes para serem atendidos.

Respirei fundo. "Tenho de ser forte", pensei. A minha mãe não ia querer ver-me assim, nem queria que ela sentisse qualquer preocupação extra por minha causa.

Há meses que ela estava a fazer tratamentos, e por vezes parecia que tudo estava a correr bem, mas depois, do nada, piorava e tinha de ficar internada. Esse ciclo de esperança e desilusão assombrava-me, tirava-me o sono, fazia-me duvidar de tudo. Mas ela... ela era diferente.

Voltei para o meu lugar e, passado uns minutos, o enfermeiro chamou-me: podia visitá-la.

Ao entrar no quarto, um sorriso iluminou o rosto da minha mãe. Abracei-a com força, tentando transmitir-lhe todo o amor e apoio que tinha dentro de mim. Entreguei-lhe um livro para que se entretivesse nos momentos mais monótonos do hospital. Apesar do seu ar frágil, os olhos brilhavam, e o seu tom de voz era animado. Eu não conseguia compreender de onde ela retirava tanta força. Até que ela disse:

"Estes últimos meses têm sido complicados, mas sinto que tudo está a melhorar. Tenho tantos planos para quando sair daqui... quero passear contigo, ler um livro à beira-mar, almoçar num bom restaurante, começar aulas de surf, ioga... aproveitar um pôr do sol, sentir a brisa quente do vento no meu cabelo, ouvir o som dos pássaros, sentir a relva molhada nos meus pés. Posso não senti-los fisicamente neste momento, mas na minha imaginação, tudo isso já acontece. A vida é boa, e eu sou muito grata por ela e pela que ainda hei de ter. Faz parte revoltarmo-nos, questionarmos 'porquê a mim?', sentirmo-nos perdidos. Mas, no fundo, são estes momentos maus que nos fazem apreciar ainda mais a beleza dos momentos bons. Vamos ser felizes hoje, porque o amanhã é incerto."

Ela não precisava de dizer mais nada. Sabia exatamente o que eu estava a pensar, sabia como me acalmar.

Uma semana depois, eu estava no mesmo local. Mas algo estava diferente. O sol brilhava lá fora, a noite tinha sido mais tranquila, o meu telemóvel estava carregado. Ao aproximar-me da máquina de café, reparei que o post-it continuava lá. Mas, em vez da frase anterior, tinha uma nova mensagem: "A única coisa que hoje é permitida estar fora de serviço são os teus medos! Aproveita o teu café."

Sorri. Bom presságio, pensei.

Quando cheguei ao quarto da minha mãe, ela estava radiante. Assim que me viu, disse: "Filha, vou ter alta hoje! O médico diz que os meus valores estão regularizados e que só preciso de continuar a tomar a medicação em casa e ir vigiando."

O abraço que lhe dei traduziu toda a minha alegria. A partir daquele dia, deixámos de adiar a felicidade, porque tudo o que realmente temos é o agora.

Porquê viver o momento presente?

A prática de viver o momento presente é fundamental para uma vida mais equilibrada e significativa. Muitas das nossas preocupações derivam da antecipação do futuro ou da fixação no passado, o que pode resultar em ansiedade e insatisfação. Ao centrarmo-nos no "aqui e agora", desenvolvemos uma maior consciência da nossa realidade e encontramos maior serenidade no quotidiano.

Um dos principais benefícios desta abordagem é a redução do stress, uma vez que nos permite libertar-nos de inquietações sobre o que está por vir. Além disso, ao direcionarmos a nossa atenção para o presente, aprendemos a valorizar os pequenos detalhes da vida, promovendo um maior sentimento de gratidão e contentamento.

No contexto das relações interpessoais, estar verdadeiramente presente fortalece os laços emocionais, tornando as interações mais autênticas e enriquecedoras. Adicionalmente, ao mantermos o foco no presente, aumentamos a nossa capacidade de reconhecer e aproveitar oportunidades, evitando arrependimentos associados a momentos desperdiçados.

Por fim, viver no presente é um exercício de aceitação e plenitude. Ao adotarmos essa perspetiva, tornamo-nos mais resilientes perante os desafios da vida e mais aptos a apreciar a beleza dos momentos que compõem a nossa jornada.

16 de abril de 2025
Lá no fundo, vi a minha tote bag preferida, aquela que usava quando saía sozinha, antes de me moldar para agradar aos outros. Peguei nela, coloquei lá um livro que andava a adiar ler há meses, um caderno e uma caneta, os meus fones, toalha, protetor solar e alguma comida e fui até à praia.
9 de abril de 2025
Passei por uma papelaria na Baixa e, na montra, reparei num caderno com uma capa ilustrada com gatos. Havia qualquer coisa nele que me chamou. Entrei, determinada. “Posso ver aquele caderno dos gatos que está na montra?”, perguntei à funcionária. “Claro que sim!”, respondeu com um sorriso. “Esse é novo por aqui, mas a marca tem modelos lindíssimos. Quer que lhe mostre mais?”
22 de março de 2025
Decidi emoldurá-lo e dar-lhe o destaque que merecia, numa das paredes da casa! Enquanto o preparava, reparei que no verso havia algo escrito. As letras estavam ligeiramente desbotadas, como se tivessem sido impressas há décadas, mas ainda perfeitamente legíveis: "Momentos captados pelas câmaras perpetuam no tempo! Dentro do baú, há uma caixa repleta de memórias que nunca ficarão esquecidas."
19 de março de 2025
Na cozinha, o meu pai reina. Adora cozinhar e experimenta receitas novas com o entusiasmo de um chef Michelin. Usa sempre um avental com cogumelos que lhe ofereci no aniversário, numa loja de artigo vintage, como ele.
5 de março de 2025
Descobri que às vezes, a felicidade está nos gestos simples. E que, de certa forma, todos estamos a tentar montar o puzzle da nossa própria vida — uma peça de cada vez, contudo quando o fazemos acompanhados, o caminho torna-se mais leve, e as imagens, mais bonitas.
26 de fevereiro de 2025
Rasguei o canto do envelope com cuidado, puxando o seu interior para fora. Um lápis caiu para o chão, antigo, com a madeira gasta e a ponta arredondada. Peguei nele e virei-o devagar. Na lateral, o nome "Beatriz" estava escrito a caneta, as letras quase apagadas pelo uso.
Postais de S. Valentim da Cavallini
12 de fevereiro de 2025
Desde pequena que sempre gostei de guardar e colecionar pequenas coisas, desde pedaços de papel, fotografias, bilhetes de cinema, conchas apanhadas na praia, a cartas nunca enviadas.
toalha de cozinha da cavallini e um pão
29 de janeiro de 2025
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22 de janeiro de 2025
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Postais da cavallini com flores
15 de janeiro de 2025
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