Ao entrar na sala, notei logo a expressão carregada. O rosto dela, tão familiar e tão distante ao mesmo tempo, não mentia. Limitou-se a cumprimentar-me com um murmúrio quase impercetível antes de desaparecer para o quarto, o espaço onde passava a maior parte dos dias agora.
"É só uma fase", pensei, tentando acalmar o aperto no peito. Sabia bem que os adolescentes precisam de espaço e que demasiada intervenção só piora as coisas. Mas, sempre que tentava conversar com ela, parecia erguer um muro intransponível, recusando-se a deixar-me entrar. Mesmo assim, algo em mim não conseguia ignorar aquela tristeza nos olhos dela.
Cedi à dúvida que me corroía por dentro e bati à porta do quarto. Quando ela abriu, vi as marcas brilhantes de lágrimas que ainda secava, e o meu coração desfez-se ao ver a minha menina tão vulnerável.
– Querida, o que é que se passa? – perguntei com suavidade. – Sei que achas que sou uma chata por me meter, mas quero que saibas que estou aqui para te ouvir, sempre que precisares.
– Mãe… eu sei. Mas não quero falar agora... – murmurou, com a voz embargada.
– Compreendo, meu amor. Não precisas de falar se não quiseres. Mas às vezes faz bem desabafar. Já há uns dias que te noto mais triste… Tens falado com alguma amiga sobre o que se passa?
Ela hesitou por um momento, os olhos fitando o chão.
– Não, mãe. Ninguém ia entender.
Aproximei-me e segurei-lhe na mão.
– Claro que vão, querida. Eu vou sempre entender-te. Já fui adolescente, lembras-te? Na tua idade, tudo parece maior, mais intenso, e os sentimentos parecem gigantes dentro de nós...
Após alguns minutos de silêncio, ela respirou fundo e desabafou:
– A Matilde... começou a namorar com o rapaz que eu gostava. Ela nem sabia que eu gostava dele. E isso ainda dói mais...
As lágrimas voltaram a escorrer, e eu abracei-a com força.
– Oh, minha querida, sinto muito. Apaixonarmo-nos pode ser tão complicado, não é? Mas quero que saibas que vais ultrapassar isto. O teu coração é forte. E estou aqui, sempre que precisares.
Ela assentiu e, por um momento, deixou-se afundar no meu abraço.
Nos dias que se seguiram, tentei dar-lhe o espaço que precisava, mas sem deixar de estar presente. Mostrava-me disponível, observava-a com atenção discreta, e fazia questão de ser uma constante silenciosa no meio do caos emocional que sabia que estava a viver.
Num dia em que estava a destralhar umas caixas antigas, encontrei algo inesperado. Entre livros e objetos guardados durante anos, deparei-me com um caderninho dos meus tempos de adolescência. Era o lugar onde, em páginas amareladas, eu tinha desabafado os amores, dores e sonhos da minha juventude.
Comecei a ler algumas páginas e senti-me transportada no tempo. Lá estavam os meus sentimentos avassaladores por um rapaz da turma do lado, com anotações como: “Só de o ver no corredor o meu dia fica melhor”, “Hoje fui ao campo de futebol só para o ver jogar” ou “Estou devastada, vi-o a passar de mão dada com uma rapariga da turma dele. Será que namoram?”. Ria-me dos meus devaneios e, ao mesmo tempo, sentia ternura por aquela versão de mim mesma, tão cheia de esperanças e dramas.
Decidi que aquele caderno podia ser útil para a minha filha. Bati novamente à sua porta.
– Posso entrar? – perguntei.
Ela acenou para que entrasse.
– Encontrei este caderninho antigo – disse, entregando-o nas suas mãos. – Era o meu diário quando tinha a tua idade. Li algumas páginas e lembrei-me de ti. Acho que vais achar graça, e talvez percebas que, por mais única que a tua dor pareça, há sempre quem compreenda e até tenha passado por algo semelhante.
Ela sorriu ligeiramente e pegou no caderno. Saí do quarto para lhe dar espaço.
Uns dias depois, enquanto preparava o almoço, ela entrou na cozinha.
– Mãe, obrigada por me teres dado o teu diário. Fez-me bem lê-lo. Foste mesmo engraçada quando tinhas a minha idade... e perceber que sentias coisas parecidas às minhas ajudou-me muito. Fez-me sentir menos sozinha.
Sorrimos uma para a outra, e respondi:
– Fico feliz que tenha ajudado e que tenhas gostado da ideia, porque comprei-te um caderno igual. Pode ser o teu lugar secreto, para escreveres tudo o que quiseres. Às vezes, desabafar no papel ajuda mais do que falarmos com alguém, podemos ser mais verdadeiros e sinceros, sem medo de julgamentos.
Ela abraçou-me de forma inesperada, e naquele momento, senti que a distância entre nós tinha diminuído.
Com gestos simples e palavras cheias de empatia, reencontrámo-nos. E naquele abraço, soube que estávamos, pouco a pouco, a construir um novo capítulo na nossa relação.
A convivência com adolescentes pode ser desafiadora, mas também é uma oportunidade para criar laços profundos e significativos. Aqui estão alguns conselhos úteis:
Os adolescentes muitas vezes sentem-se julgados, por isso ouça-os com atenção, mostrando que os leva a sério. Mesmo que não compreenda ou concorde, valorize o que partilham. Às vezes, só precisam de ser ouvidos.
Os adolescentes estão a definir quem são, e parte disso inclui e requer privacidade. Respeitar o espaço deles demonstra confiança e ajuda a construir uma relação mais equilibrada.
Cria um ambiente seguro para que eles saibam que podem falar sobre qualquer coisa. Use uma linguagem compreensiva, evite críticas diretas e reforce que está sempre disponível para ajudar.
Relembre os seus próprios desafios da adolescência. Isso ajuda a gerar empatia e a perceber que muitas das emoções ou comportamentos que parecem complicados são apenas naturais nesta fase.
Apesar de quererem liberdade, os adolescentes ainda precisam de orientações. Defina regras, mas explique os motivos por trás delas. Dê-lhes também a oportunidade de participar na construção dessas regras.
Os adolescentes estão a lidar com flutuações hormonais e mudanças na sua identidade. Permita que tenham dias "menos bons", sem interpretar isso como algo pessoal.
Apoie os hobbies e interesses deles, mesmo que não sejam algo que compreenda inteiramente. Ajude-os a explorar as suas paixões de forma saudável.
Eles aprendem mais com o que fazemos do que com o que dizemos. Mostre paciência, respeito e a importância de uma boa comunicação com o seu próprio comportamento.
A convivência com adolescentes, apesar de desafiante, é uma jornada repleta de oportunidades para fortalecer laços e deixar um impacto duradouro na vida deles. Envolve um equilíbrio delicado entre dar espaço e oferecer apoio, escutar com empatia e orientar com sabedoria.
Aceitar esta fase como um processo natural de crescimento, para eles e também para os pais ou cuidadores, ajuda a transformar momentos difíceis em oportunidades de conexão genuína. Com paciência, amor incondicional e disponibilidade, criamos um ambiente onde os adolescentes sentem que podem ser ouvidos, compreendidos e valorizados.
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