Desde que me lembro, sempre fui fascinada pelo passado. Os objetos antigos, os tons desbotados das fotografias a preto e branco, o cheiro dos livros envelhecidos – tudo isso me transportava para tempos que nunca vivi, mas que, de alguma forma, sentia como meus. Talvez fosse por influência da minha avó.
A avó Beatriz era uma mulher muito à frente do seu tempo. Desde muito nova, apaixonou-se pela fotografia e foi das primeiras da sua cidade a ter uma máquina fotográfica. Contava-me histórias de como passava horas a tentar capturar o momento perfeito, de como adorava revelar os rolos e ver as imagens ganharem vida na escuridão do laboratório. Para ela, uma fotografia era mais do que uma imagem, era uma forma de viajar no tempo e tornar eterno aquilo que um dia se iria perder.
Foi por isso que, quando ela partiu, herdei a sua casa cheia de recordações. Passei dias a explorar cada canto, como se estivesse a tentar absorver todos os pensamentos e momentos que ela lá viveu. Numa tarde nublada, ao remexer no velho sótão, encontrei um póster enrolado dentro de um tubo de cartão.
Ao desenrolá-lo reparei que era um poster com uma ilustração vintage de várias câmaras fotográficas antigas, num estilo collage que remetia a épocas passadas.
Decidi emoldurá-lo e dar-lhe o destaque que merecia, numa das paredes da casa! Enquanto o preparava, reparei que no verso havia algo escrito. As letras estavam ligeiramente desbotadas, como se tivessem sido impressas há décadas, mas ainda perfeitamente legíveis:
"Momentos captados pelas câmaras perpetuam no tempo! Dentro do baú, há uma caixa repleta de memórias que nunca ficarão esquecidas."
Por instantes, fiquei intrigada com a mensagem e depois lembrei-me do baú! Como não me tinha lembrado dele antes? Era uma peça robusta de madeira escura que sempre esteve no quarto da avó. Lembro-me de, em criança, brincar ao lado dele e perguntar-lhe o que guardava lá dentro. Ela sorria e dizia sempre a mesma coisa: "Pequenos tesouros do passado."
Desci apressada até ao quarto e abri o baú, sentindo o cheiro característico da madeira envelhecida misturado com um leve perfume a lavanda. Lá dentro, entre lenços bordados e cadernos antigos, encontrei uma pequena caixa de lata. Lá dentro, estavam vários rolos fotográficos, cuidadosamente organizados e protegidos pelo tempo.
Segurei-os nas mãos enquanto na minha cabeça borbulhavam perguntas! O que teriam registado? Fotografias esquecidas? Fragmentos de um passado que ninguém mais se lembrava? Não podia deixá-los ali.
No dia seguinte, levei-os a uma loja de fotografia que ainda fazem revelação analógica. O funcionário olhou para os rolos com curiosidade, comentando que eram bastante antigos, mas que faria o possível para os revelar com o máximo de qualidade. Quando os recebi, não conseguia conter a minha curiosidade em explorar todas as fotografias. Cada imagem era um portal para um tempo que eu não vivi, mas que agora podia ver com os meus próprios olhos. A minha avó, jovem e sorridente, com a mão pousada sobre a barriga grávida da minha mãe. A antiga casa onde viveram, com a varanda cheia de flores e os móveis antigos que eu ainda reconhecia. Os jardins que, embora agora mais selvagens, tinham sido cuidados com amor. Os seus animais de estimação, com expressões tão reais que quase os conseguia ouvir. E, entre todas as imagens, uma das mais bonitas: a minha mãe em bebé, envolta numa manta bordada, olhando para a câmara com olhos curiosos.
Foi uma verdadeira viagem ao passado. Através da lente da minha avó, vi o mundo como ela o via, senti o que ela sentia. E, naquele momento, percebi que me tinha deixado o melhor presente de todos: as suas memórias.
Talvez tenha sido daí que nasceu o meu amor pela fotografia e pela cultura vintage. Sempre me senti atraída por objetos que contam histórias, por imagens que nos fazem viajar no tempo. E agora, mais do que nunca, sei que não é por acaso, está no meu sangue.
O póster das câmaras fotográficas continua pendurado na parede da minha sala, não apenas como uma peça decorativa, mas como um lembrete. Um lembrete de que os momentos podem passar, as pessoas podem partir, mas as memórias que capturamos ficam para sempre.
A história da fotografia começa com o princípio da câmara escura, um dispositivo ótico conhecido desde a Antiguidade, usado por filósofos como Aristóteles e, mais tarde, por artistas renascentistas para projetar imagens. No entanto, só no século XIX foi possível fixar essas imagens. Em 1826, Nicéphore Niépce conseguiu a primeira fotografia permanente com um processo chamado heliografia, mas foi em 1839 que Louis Daguerre aperfeiçoou a técnica e criou o daguerreótipo, tornando a fotografia comercialmente viável. Pouco depois, William Henry Fox Talbot inventou o calótipo, que permitia criar negativos e fazer múltiplas cópias. No final do século XIX, a fotografia tornou-se mais acessível graças a George Eastman, fundador da Kodak, que popularizou o uso de filmes em rolo com o slogan "Você aperta o botão, nós fazemos o resto". A cor chegou no início do século XX com o Autochrome dos irmãos Lumière, mas só se popularizou com o Kodachrome em 1935. Nas décadas seguintes, surgiram as câmeras SLR, usadas por profissionais, e a Polaroid, que permitia revelar fotos instantaneamente.
A revolução digital começou em 1975, quando a Kodak criou a primeira câmera digital, mas foi só nos anos 1990 e 2000 que as câmeras digitais começaram a substituir o filme. Com a chegada dos smartphones, a fotografia tornou-se parte do nosso quotidiano, transformando-se num dos meios mais usados para registar memórias, contar histórias e expressar criatividade.
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