Amizade nos Momentos Mais Difíceis

Já há alguns dias que sentia o meu corpo diferente. A energia parecia escapar-se, as dores eram insistentes e os espirros não paravam. Mesmo assim, a rotina não podia abrandar. Tinha uma lista interminável de tarefas: responder a e-mails, gerir imprevistos no trabalho, ir ao ginásio, preparar o jantar e estender a roupa. Parar não era uma opção.

No entanto, a noite passada foi insuportável. Não consegui dormir nada, o corpo ardia em febre, e percebi que tinha chegado ao meu limite. Já não dava para ignorar. Logo pela manhã, liguei para o trabalho para explicar que precisaria de um dia de repouso, esperançosa de que estaria melhor no dia seguinte. De seguida, contactei a linha de saúde e, após descrever os sintomas, aconselharam-me a tomar medicação, descansar, beber muitos líquidos e seguir uma alimentação leve.

Depois da chamada, sentei-me no sofá, embrulhada na manta que me acompanha em momentos difíceis, e enviei uma mensagem ao meu grupo de amigas no WhatsApp a dar notícias. Porém, só de olhar para a luz do telemóvel, a dor de cabeça parecia intensificar-se. Coloquei-o de lado e tentei descansar. As horas passavam e, em vez de melhorar, sentia-me ainda pior: fria, com dores mais agudas e completamente incapaz de repousar. Perguntei-me se deveria ir ao hospital.

Foi nesse momento que a campainha tocou. Com esforço, arrastei-me até à porta. Pelo buraquinho da fechadura, reconheci a Filipa, a minha grande amiga, com um saco nas mãos. Mal consegui abrir a porta, mas lá estava ela, radiante como sempre.

— Como não respondeste mais às mensagens, vim cuidar de ti! — disse com um sorriso no rosto.

Ainda surpresa, tentei justificar-me:

— Desculpa, amiga. Nem consigo olhar para o telemóvel, parece que a minha cabeça vai explodir.

Ela tocou na minha testa, alarmada:

— Estás a arder em febre! Já tomaste alguma coisa?

Neguei com a cabeça e expliquei que estava à espera que passasse sozinho. Ela, sempre prática, exclamou:

— Ainda bem que vim prevenida!

Do saco, começou a tirar mantimentos: remédios, ingredientes para uma canja e até um chá especial. Foi direta procurar o meu avental, enquanto brincava:

— Vou fazer-te um chá bem quentinho e uma canja. Ah, que avental lindo é este? Se desaparecer, já sabes onde procurar!

Mesmo doente, não consegui conter uma gargalhada. Só a Filipa para me fazer esquecer que estava indisposta.

Preparou tudo com cuidado, trouxe-me chá e a medicação, sempre com aquele jeitinho especial de fazer tudo parecer mais leve. Após a canja, ordenou que fosse descansar no quarto enquanto ficava na sala, pronta a ajudar-me caso precisasse de algo.

Ao acordar, horas depois, sentia-me um pouco melhor. Fui à sala agradecer-lhe:

— Amiga, sinto-me muito melhor. Obrigada por tudo!

Ela, com a bondade de sempre, respondeu:

— Claro que sim, estou aqui para isso. Sei que farias o mesmo por mim. E nem tentes contestar, porque vou passar a noite aqui contigo para ter a certeza de que estás bem.

O simples facto de saber que ela estava ali por mim fez-me sentir reconfortada e ainda mais grata.

No dia seguinte, apesar de ainda não estar totalmente recuperada, sentia os primeiros sinais de melhora. Decidi continuar a descansar em casa, desta vez focada no meu bem-estar. A Filipa, entretanto, voltou para casa, mas manteve contacto constante: mensagens, chamadas, e um apoio inestimável.

Uma semana depois, completamente recuperada, marcámos um lanche para nos reencontrarmos. Assim que a vi, levantei-me e dei-lhe um abraço apertado.

Depois de nos sentarmos, estendi-lhe um saco e disse:

— Isto é para ti.

Ela abriu o presente e exclamou:

— Ahhh, não acredito! Um avental igual ao teu!

— Não é igual, é o mesmo. Como gostaste tanto dele, achei que teria mais valor contigo. Mas também tens aí uma toalha de chá nova! Essa comprei, porque se te desse a minha já iria ser um grande prejuízo.

Entre risos e palavras de agradecimento, entrelaçou a sua mão na minha e disse:

— Muito obrigada, amiga.

Respondi, emocionada:

— Eu é que agradeço. O que fizeste por mim não tem preço. Vou lembrar-me para sempre, até ser velhinha.

E nesse momento pensei: é verdade o que dizem, nos momentos difíceis é que descobrimos quem são os nossos verdadeiros amigos. E eu tive a sorte de encontrar uma amiga como a Filipa.

Reflexão: "Porque é nos momentos difíceis que descobrimos os amigos"

É nas horas mais sombrias que, muitas vezes, revelamos a verdadeira essência das nossas relações. Quando tudo parece estar a desmoronar, quando enfrentamos os desafios e as adversidades, somos convidados a olhar mais de perto para aqueles que estão ao nosso redor. E é nestes momentos, precisamente, que descobrimos quem realmente está ao nosso lado, não pela conveniência ou pela facilidade, mas pela disposição verdadeira de se entregar sem expectativas.

A vida pode ser repleta de surpresas agradáveis quando tudo vai bem, quando as coisas correm como esperamos. Mas é quando enfrentamos as dificuldades, os obstáculos e as perdas que testamos a profundidade das nossas amizades. Um amigo genuíno é aquele que não se afasta quando as circunstâncias ficam mais difíceis. Pelo contrário, ele é a pessoa que se aproxima, que oferece uma mão amiga, que não hesita em dar o seu tempo, energia e apoio para nos ajudar a atravessar a tempestade.

Muitas vezes, na rotina quotidiana, podemos dar-nos ao luxo de ver os amigos de forma superficial, mantemos relações fáceis e sem grandes complicações. No entanto, nos momentos difíceis, é que a verdadeira amizade se desenha. Um amigo que se mantém ao nosso lado na dor, no sofrimento ou na nossa fragilidade, é aquele que realmente compreende o valor do que é ser amigo. Não são as palavras ou promessas vazias que fazem a diferença, mas as ações que falam mais alto do que qualquer discurso.

A amizade verdadeira não se limita a estar presente nos momentos de festa ou celebração, mas a oferecer a sua companhia quando a solidão parece maior, quando o medo é mais intenso ou quando não temos forças para seguir em frente. É a presença silenciosa que conforta, a palavra de incentivo que ilumina, a atenção sincera que nos faz acreditar que, mesmo nas nossas fraquezas, não estamos sozinhos.

E é através desses momentos, desses gestos de carinho e apoio incondicional, que realmente nos damos conta de quem são os amigos que podemos confiar, aqueles que estão dispostos a partilhar os nossos fardos e a caminhar ao nosso lado, sem desistir. E essa descoberta torna a relação mais forte, mais profunda, mais verdadeira, pois é nos momentos difíceis que se prova o valor de uma amizade, e, muitas vezes, é também nesses momentos que crescemos juntos e nos tornamos mais ligados do que nunca.

Portanto, os desafios da vida têm uma forma especial de filtrar os amigos, de colocar à prova o laço que nos une a alguém. A dor pode ser o fogo que tempera a amizade, transformando-a em algo mais forte e resiliente. Por isso, ao olharmos para os amigos que se mantiveram firmes ao nosso lado nos tempos difíceis, percebemos que as relações mais profundas são, na sua essência, aquelas que resistem às tempestades. E que a amizade verdadeira não é medida pelas boas noites de festa, mas pelas noites em que não pedimos nada, e, ainda assim, o outro está lá.

16 de abril de 2025
Lá no fundo, vi a minha tote bag preferida, aquela que usava quando saía sozinha, antes de me moldar para agradar aos outros. Peguei nela, coloquei lá um livro que andava a adiar ler há meses, um caderno e uma caneta, os meus fones, toalha, protetor solar e alguma comida e fui até à praia.
9 de abril de 2025
Passei por uma papelaria na Baixa e, na montra, reparei num caderno com uma capa ilustrada com gatos. Havia qualquer coisa nele que me chamou. Entrei, determinada. “Posso ver aquele caderno dos gatos que está na montra?”, perguntei à funcionária. “Claro que sim!”, respondeu com um sorriso. “Esse é novo por aqui, mas a marca tem modelos lindíssimos. Quer que lhe mostre mais?”
22 de março de 2025
Decidi emoldurá-lo e dar-lhe o destaque que merecia, numa das paredes da casa! Enquanto o preparava, reparei que no verso havia algo escrito. As letras estavam ligeiramente desbotadas, como se tivessem sido impressas há décadas, mas ainda perfeitamente legíveis: "Momentos captados pelas câmaras perpetuam no tempo! Dentro do baú, há uma caixa repleta de memórias que nunca ficarão esquecidas."
19 de março de 2025
Na cozinha, o meu pai reina. Adora cozinhar e experimenta receitas novas com o entusiasmo de um chef Michelin. Usa sempre um avental com cogumelos que lhe ofereci no aniversário, numa loja de artigo vintage, como ele.
5 de março de 2025
Descobri que às vezes, a felicidade está nos gestos simples. E que, de certa forma, todos estamos a tentar montar o puzzle da nossa própria vida — uma peça de cada vez, contudo quando o fazemos acompanhados, o caminho torna-se mais leve, e as imagens, mais bonitas.
26 de fevereiro de 2025
Rasguei o canto do envelope com cuidado, puxando o seu interior para fora. Um lápis caiu para o chão, antigo, com a madeira gasta e a ponta arredondada. Peguei nele e virei-o devagar. Na lateral, o nome "Beatriz" estava escrito a caneta, as letras quase apagadas pelo uso.
Postais de S. Valentim da Cavallini
12 de fevereiro de 2025
Desde pequena que sempre gostei de guardar e colecionar pequenas coisas, desde pedaços de papel, fotografias, bilhetes de cinema, conchas apanhadas na praia, a cartas nunca enviadas.
Flores e bloco de notas aderentes com flores da Cavallini
5 de fevereiro de 2025
Agora é o momento certo! Já há alguns dias que parecia que nada corria bem. O cansaço acumulado pesava-me nos ombros, e a sensação de impotência começava a sufocar-me.
toalha de cozinha da cavallini e um pão
29 de janeiro de 2025
O cheiro do bolo de laranja quente enchia a cozinha, misturando-se com o vapor do chá acabado de fazer.
22 de janeiro de 2025
As flores e o postal de boas-vindas na minha mesa, que guardo até hoje, foram um sinal claro de que este não era apenas um emprego, era um lugar onde eu poderia crescer como profissional e como pessoa.
Show More