Quando o calendário marca o nono mês do ano, as rotinas retomam-se e novas histórias começam a ser escritas. Naquele dia, saímos de casa logo de manhã cedo, com a cidade ainda a despertar. O sol, tímido no horizonte, espelhava uma luz suave, mas forte o suficiente para aquecer as ruas que nos levavam até à escola. Caminhava de mãos dadas com a minha filha, Matilde, que estava prestes a viver um dos momentos mais marcantes da sua infância: o primeiro dia de escola. Matilde, de apenas 6 anos, explorava o mundo à sua volta com os seus grandes olhos castanhos, cheios de curiosidade, mas também com uma pitada de ansiedade.
Dentro de mim, travava-se uma batalha de emoções. Sabia que este era um passo natural, inevitável, e queria encará-lo com leveza e normalidade. Mas, ao mesmo tempo, o momento da separação assustava-me, receava que ela se sentisse abandonada num sítio desconhecido. Matilde, a minha companhia inseparável destes últimos 6 anos, estava agora a iniciar um caminho novo, rumo à sua independência. O aperto no coração era real, mas o mais importante era garantir que ela se sentisse segura e feliz.
Sabia que este novo espaço acolheria muitas das suas memórias de infância. Aqui, criará as suas primeiras amizades, viverá divertidas aventuras e descobrirá o mundo. E era com essa perspetiva que enfrentava esta situação, tentando fazer deste dia algo positivo e reconfortante.
Por isso, naquela manhã, antes de sairmos de casa, fui buscar uma pequena caixa metálica, que guardava com carinho na gaveta do meu quarto. Era uma caixa antiga, decorada com flores na tampa, onde dentro estavam vários lápis também floridos e uma afia. Uma caixa simples, mas de um valor sentimental incalculável. A minha mãe tinha-ma oferecido no meu primeiro dia de escola, e eu guardei-a até hoje. Lá dentro, havia ainda uma pequena lista, escrita à mão pela minha mãe, com as coisas que me faziam sentir em casa: "Abraços apertados, risos a correr pelo jardim, o cheiro a pão quente da cozinha, o ronronar do Garfield, as gargalhadas do pai."
Quando cheguei à porta da escola, ajoelhei-me à altura da Matilde e, com um sorriso, mostrei-lhe a caixa.
— Matilde — disse-lhe suavemente —, quero-te mostrar algo muito especial. Esta caixa foi-me dada pela tua avó no meu primeiro dia de escola. Quando me sentia triste, ansiosa ou sozinha, abria-a e pedia à professora para ler o que estava escrito lá dentro. Isso fazia-me lembrar de casa e de todos os momentos felizes que lá vivia. Hoje, esta caixa é tua.
Os olhos de Matilde brilharam ao ver a caixa, como se estivesse a receber um verdadeiro tesouro. Abri a tampa devagar e mostrei-lhe a lista, cujas letras, embora gastas pelo tempo, ainda mantinham todo o seu significado.
— Podes levar esta caixa contigo para a escola — continuei — e, sempre que sentires a minha falta ou de casa, podes abri-la, pegar num dos lápis e desenhar aquilo que estás a sentir. Prometo-te que, mesmo quando não estou ao teu lado, o meu amor estará sempre contigo.
Matilde esboçou um sorriso tímido, mas cheio de confiança, e guardou a caixa na sua nova mochila, aquela que levava com tanto orgulho às costas. Naquele momento, tive a certeza de que este pequeno objeto teria o mesmo poder reconfortante para a Matilde, tal como o teve para mim há tantos anos.
Quando finalmente entramos, a Matilde parecia mais serena e animada. Percorremos os corredores de mãos dadas até à sala, e, embora a despedida fosse inevitável, havia uma calma inesperada no ar. Ajoelhei-me uma última vez, olhei-a nos olhos e disse-lhe com ternura:
— Vais ser muito corajosa, meu amor. Estarei a pensar em ti o dia todo, e, quando te vier buscar, vais contar-me todas as coisas maravilhosas que aprendeste.
Ela abraçou-me uma última vez e, com passos pequenos, mas decididos, entrou na sala de aula, pronta para descobrir um novo mundo de aventuras.
Enquanto me afastava, senti uma leveza no coração. Havia, claro, aquela pontinha de preocupação que todas as mães sentem, mas o orgulho prevalecia. Sabia que tinha oferecido à Matilde algo mais do que uma lembrança da minha infância, tinha-lhe dado a confiança para enfrentar o mundo. E, por mais longe que estivesse, ela saberia que o conforto da mãe estaria sempre ali, guardado numa pequena caixa de metal.
O primeiro dia de aulas é um acontecimento muito marcante tanto para as crianças como para os pais. É o começo de uma nova etapa, que será acompanhada de desafios, aprendizagens e, acima de tudo, muito crescimento. Para muitos pais, este momento gera diferentes tipos de sentimentos que nem sempre são fáceis de lidar, já que oscilam entre o orgulho, ansiedade, e até uma certa tristeza. É um processo complexo, afinal, está a assistir ao primeiro passo dos seus filhos rumo a uma maior independência. Contudo, este processo, embora emocionalmente intenso, é uma parte essencial do seu desenvolvimento e do pais também.
É importante ter em mente que, ao deixar os seus filhos na escola está a deixá-los num espaço onde eles irão criar histórias e memórias, descobrir o mundo à sua maneira e aprender a lidar com desafios. Esta separação temporária é, na verdade, uma oportunidade de os ajudarmos a construir a confiança e a autonomia que serão fundamentais ao longo da vida.
Para encarar este momento de forma mais leve, é essencial que os pais se foquem no lado positivo: a escola é um espaço de novas amizades, de brincadeiras e de crescimento. Ao permitir que os seus filhos enfrentem desafios fora do seu abraço protetor, está também a ensinar-lhes a confiarem neles próprios, a demonstrar que acredita nas suas capacidades de adaptação e aprendizagem.
Permita-se sentir as emoções desse momento, entregue-se e confie no processo. Estar presente, oferecer palavras de encorajamento e criar pequenos rituais de conforto — como uma história, um objeto especial ou uma promessa de reencontro ao fim do dia — pode fazer toda a diferença, tanto para a criança como para si.
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