A Ditadura da Felicidade

Livros, apontamentos, resumos e cadernos poderiam facilmente ser elementos decorativos do meu quarto, já que estão espalhados por todo lado. Quando fecho os olhos, os Lusíadas entram no palco da minha mente e recitam os seus poemas, seguindo-se dos seus heterónimos de Fernando Pessoa com o seu ato, narrando as suas reflexões. O espetáculo termina com os exercícios matemáticos, onde a trigonometria e a geométrica tentam incessante encontrar a solução para os seus problemas. 

Esta secretária tem sido a minha principal confidente, arrisco-me a dizer que me tem visto mais vezes do que a minha própria mãe. A cadeira onde me sento já sabe de cor as formas do meu corpo de tanto tempo me sentar nela.

Sei que não devia colocar tanta pressão em mim, mas sinto que agora é o “tudo ou nada”, não posso dar parte fraca, o meu sonho depende do resultado destes exames.

Reconforta-me pensar que daqui a um mês tudo isto terá terminado, e é a isso que me tento agarrar. Por agora, os dias parecem-me todos iguais: levanto-me, como qualquer coisa rapidamente e mergulho na matéria que planeio estudar.

Com o passar dos dias a motivação vai-se desvanecendo, tal como a concentração. Enquanto estudo, a minha mente dispersa pelos mais variados assuntos e tenho de fazer um esforço extra para me trazer de volta aos livros.

Pego no telemóvel e perco-me nos mil e um vídeos sugeridos pela minha “for you page”, grande parte deles sobre estudos, o que me deixa ainda mais frustrada por não estar naquele nível de dedicação e conhecimento que por lá relatam.

Abro outra aplicação e aparentemente, nas redes sociais, todos os meus colegas se estão a divertir, a sair à noite, a ir às compras, a ver concertos e eu não estou a fazer nada disso, só estudo. 

Decido ir até à sala, já que o estudo não está a ser produtivo e a desmotivação tomou conta de mim. A minha irmã, que está afogada no sofá, olha para mim com cara de admiração por me ver e abre espaço no sofá para me sentar junto dela. Eu deito-me no seu ombro e digo:

- “Estou farta de estudar, já não consigo mais! Toda a gente a fazer coisas interessantes e eu aqui, a queimar as pestanas e a observar de longe a vida deles, sem viver a minha.” - desabafo.

Noto que ela foi apanhada de surpresa com esta informação, pela expressão incrédula que se apoderou da sua face, e rebate:

- “Isso não é verdade. Primeiro, as redes sociais não reproduzem a realidade. Os teus colegas optam por publicar apenas aquilo que querem que tu vejas. Raramente expõem os seus desafios, problemas, anseios ou dificuldades que estejam a passar. Segundo, tu estás a viver a tua vida, estás a fazer sacrifícios em prol de um sonho que queres muito realizar. Na vida temos de lutar por aquilo que queremos, mesmo que o caminho não seja sempre o mais prazeroso. Não sejas tão dura contigo própria, de certeza que irás colher os frutos daquilo que estás a plantar. O meu conselho para ti seria tentares equilibrar melhor o teu tempo, fazer algo que gostes durante uma hora do teu dia, pois provavelmente voltarás com as energias recarregadas para um estudo mais produtivo.” - disse ela.

Fiquei a refletir sobre o que disse e as suas palavras fizeram muito sentido para mim, permitindo-me observar a minha situação de outra perspetiva.

- “Posso-te levar a um sítio que já te queria levar há muito tempo?” Pergunta-me ela.

Apesar da preocupação em estudar estar muito latente, sabia que não iria ser frutífero, então decidi aceitar o seu convite, muito também pela curiosidade em saber que sítio é esse.

- “Chegamos” - diz ela enquanto desliga o carro, e continua – “Antes de irmos quero oferecer-te uma coisa que vais ter de usar para a atividade que vamos fazer” e passa-me um saco de musselina para as mãos. Abro o cordão, na pressa de perceber o que estará lá dentro, e deparo-me com um avental. Enquanto o desenrolava pensava não só no quão bonito ele era, cheio de flores, mas também na razão desta oferta. Porquê que ela me está a dar um avental?

- “Vamos cozinhar?” - pergunto eu enquanto solto uma gargalhada.

- “Nop” - Responde ela – “Vamos fazer algo que tu adoras, e que há muito tempo que não fazes” - e aponta para um edifício lá fora com um letreiro escrito “Estúdio de pintura e cerâmica”. Os meus olhos estremeceram e automaticamente a excitação tomou conta de mim, como se tivesse ganho um prémio num concurso qualquer. Ela tinha desenterrado de dentro de mim uma memória que há muito estava esquecida, o meu gosto por pintar cerâmica.

Vestimos as duas os nossos aventais e colocamos mãos à obra, colorindo copos, malgas, taças e pratos da forma mais criativa que conseguimos. Este momento entre irmãs fez-me refletir acerca da importância de parar e dar espaço para a diversão coabitar com a responsabilidade que exige este momento da minha vida. 

Apercebi-me que não me devo comparar com o que vejo online, pois toda a gente está a passar pelo seu processo.

Talvez os vídeos perfeitos sobre estudo que vejo online classificariam este dia como perdido, mas tenho a certeza que terá o efeito contrário em mim quando voltar para a minha velha amiga, a secretária. 


Por que não nos devemos comparar com o que vemos nas redes sociais?


Na era digital em que vivemos dedicamos muito do nosso tempo livre a vaguear entre as várias redes sociais que temos instaladas. O seu intuito de nos aproximar das pessoas, muitas vezes produz o efeito contrário, já que somos constantemente bombardeados por conteúdos de vidas aparentemente perfeitas e felizes: férias de sonho, corpos esculpidos, conquistas profissionais incríveis e relacionamentos amorosos ideias. Esta exposição a que damos acesso pode-nos levar a cair numa armadilha perigosa: a comparação.

Como podemos evitar que isso aconteça e por que é que não o devemos fazer?


Distorção da realidade


Nem tudo o que vemos corresponde à realidade! Devemos ter em mente que a maior parte das pessoas tendem a partilhar apenas aquilo que acha mais apelativo mostrar, como os momentos felizes ou conquistas bem-sucedidas, criando uma versão editada das suas vidas. As fotos são cuidadosamente selecionadas, editadas e retocadas para parecerem perfeitas. Isso leva à criação de uma realidade distorcida, onde a parte menos glamourosa e os momentos de vulnerabilidade são omitidos.


Falsa sensação de felicidade



Comparar-se com os outros nas redes sociais pode constituir uma ameaça à sua própria felicidade. Ao vermos publicações sobre aquela viagem de sonho que queríamos muito fazer ou acerca daquela oportunidade profissional que também queríamos ter, pode levar-nos a questionar as nossas próprias conquistas e experiências. É importante ter em mente que a felicidade é subjetiva e relativa, o que nos dá alegria e satisfação, pode não ser o mesmo para outra pessoa. A felicidade não deve ser medida pelo que os outros partilham online.


Impacto na Autoestima


Atos de comparação constante podem ter um impacto nocivo na nossa autoestima e autoconfiança. Sentimentos de inadequação em relação aos outros pode gerar complexos inferioridade e várias inseguranças. É importante lembrarmo-nos de que todos temos as nossas lutas e desafios, mesmo que estas não estejam expostas publicamente. Comparar-se com os outros é ignorar as suas próprias circunstâncias, talentos e oportunidades. Procure valorizar as suas conquistas e reconhecer o seu valor independentemente do que vê online.


As redes sociais são uma poderosa ferramenta para unir pessoas e gerar informação, mas devemo-nos abstrair de pressões e evitar comparações desnecessárias. Experimente tirar um momento do seu dia para se abstrair do seu telemóvel, fazer atividades que lhe deem prazer e que fortaleçam os seus laços consigo própria e com os outros, para assim dar pequenos passos em direção à felicidade.

23 de abril de 2025
Havia algo especial nela, dentro da sua mala, havia sempre uma bolsa, mas não uma qualquer, era vintage, de tecido encorpado, coberto por flores em tons antigos, como se tivesse sido arrancado de uma ilustração botânica de uma enciclopédia esquecida no sótão de uma casa senhorial.
16 de abril de 2025
Lá no fundo, vi a minha tote bag preferida, aquela que usava quando saía sozinha, antes de me moldar para agradar aos outros. Peguei nela, coloquei lá um livro que andava a adiar ler há meses, um caderno e uma caneta, os meus fones, toalha, protetor solar e alguma comida e fui até à praia.
9 de abril de 2025
Passei por uma papelaria na Baixa e, na montra, reparei num caderno com uma capa ilustrada com gatos. Havia qualquer coisa nele que me chamou. Entrei, determinada. “Posso ver aquele caderno dos gatos que está na montra?”, perguntei à funcionária. “Claro que sim!”, respondeu com um sorriso. “Esse é novo por aqui, mas a marca tem modelos lindíssimos. Quer que lhe mostre mais?”
22 de março de 2025
Decidi emoldurá-lo e dar-lhe o destaque que merecia, numa das paredes da casa! Enquanto o preparava, reparei que no verso havia algo escrito. As letras estavam ligeiramente desbotadas, como se tivessem sido impressas há décadas, mas ainda perfeitamente legíveis: "Momentos captados pelas câmaras perpetuam no tempo! Dentro do baú, há uma caixa repleta de memórias que nunca ficarão esquecidas."
19 de março de 2025
Na cozinha, o meu pai reina. Adora cozinhar e experimenta receitas novas com o entusiasmo de um chef Michelin. Usa sempre um avental com cogumelos que lhe ofereci no aniversário, numa loja de artigo vintage, como ele.
5 de março de 2025
Descobri que às vezes, a felicidade está nos gestos simples. E que, de certa forma, todos estamos a tentar montar o puzzle da nossa própria vida — uma peça de cada vez, contudo quando o fazemos acompanhados, o caminho torna-se mais leve, e as imagens, mais bonitas.
26 de fevereiro de 2025
Rasguei o canto do envelope com cuidado, puxando o seu interior para fora. Um lápis caiu para o chão, antigo, com a madeira gasta e a ponta arredondada. Peguei nele e virei-o devagar. Na lateral, o nome "Beatriz" estava escrito a caneta, as letras quase apagadas pelo uso.
Postais de S. Valentim da Cavallini
12 de fevereiro de 2025
Desde pequena que sempre gostei de guardar e colecionar pequenas coisas, desde pedaços de papel, fotografias, bilhetes de cinema, conchas apanhadas na praia, a cartas nunca enviadas.
Flores e bloco de notas aderentes com flores da Cavallini
5 de fevereiro de 2025
Agora é o momento certo! Já há alguns dias que parecia que nada corria bem. O cansaço acumulado pesava-me nos ombros, e a sensação de impotência começava a sufocar-me.
toalha de cozinha da cavallini e um pão
29 de janeiro de 2025
O cheiro do bolo de laranja quente enchia a cozinha, misturando-se com o vapor do chá acabado de fazer.
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